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quinta-feira, abril 25, 2024
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Engenheiros de Irati criam fábrica de canudos de trigo no município

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Produto sustentável não se decompõe na bebida e é uma opção para a substituição do canudo de plástico.

Já pensou em substituir o canudo de plástico por um canudo feito à base de trigo? Essa é a proposta de três engenheiros iratienses que montaram a fábrica Tri Canudos de Trigo, para a produção de canudos a partir da palha de trigo. A ideia foi trazida para Irati pelos engenheiros André Vosnika, Rafael Santos e Eduardo Esmanhotto, que se formaram na Universidade de São Paulo (USP).

A ideia do canudo à base de palha de trigo surgiu em 2019, após os engenheiros procurarem uma forma sustentável de substituir o canudo de plástico. “Tem umas leis de banir o plástico de uso único, muito desenvolvido na Europa e nos países de primeiro mundo, e começou aqui no Brasil, com o Rio de Janeiro e São Paulo, já há uns estados que proíbem o canudo de plástico. Lá em 2019, quando começou essa iniciativa, nós começamos a pensar uma alternativa sustentável e fomos atrás de soluções alternativas”, disse André.

Rafael explica que a escolha do trigo se deu por causa das propriedades da planta. “A gente chegou na palha de trigo por causa das propriedades dela. Diferente das outras soluções que temos no mercado, que seja a de massa de macarrão ou a de papel, eles têm a qualidade bem questionável, em questão de durabilidade do produto. Você vai colocar num refrigerante, numa Coca, que é um negócio bem agressivo, o de massa esfarela, o de papel se desfaz, a sensação na boca é muito pior também. Então, chegamos a de trigo pelas propriedades. Ele é muito semelhante em questão de tato e gosto com o de plástico, por isso que optamos por seguir nessa linha”, disse.

Eduardo explica que para se chegar ao resultado, é usado uma parte da planta de trigo para a feitura do produto. “O canudo não é feito da farinha do trigo. O canudo é feito do talo do trigo. É o caule do trigo cortado, por isso que ele não tem glúten, por isso que tem uma consistência bacana e parecida com o plástico”, explica.

A realização do canudo com este material não é uma novidade, conforme explica Eduardo. “Na verdade, o canudo de trigo não é uma inovação. O canudo de trigo vem desde a Mesopotâmia, antes do plástico existir, as pessoas já usavam o canudo de trigo”, conta.

Fábrica de canudos de trigo foi idealizada pelos engenheiros Eduardo Esmanhotto, André Vosnika e Rafael Santos. Foto: Divulgação

Com a invenção do plástico, as pessoas deixaram de usar o produto feito à base de trigo. Mas a feitura do produto foi recuperada com os engenheiros que encontraram a iniciativa sendo realizada em países como Estados Unidos, Austrália e do continente asiático. “A gente vai voltar como era antigamente, só que com um processo de produção pensado pela gente, usando o nosso conhecimento que a gente teve na faculdade”, afirma Eduardo.

Da ideia até a concretização do negócio, com o desenvolvimento do produto, foram seis meses de planejamento e testes. Segundo Eduardo, a preocupação dos engenheiros era de que a fabricação do produto também fosse limpa. “A gente não queria que o canudo fosse ecológico, mas a nossa fábrica não fosse. Na nossa fábrica temos desde o papel que o canudo é embalado individualmente, que é biodegradável. O processo de limpeza do trigo é 100% limpo. A gente não usa nenhum químico, nenhum produto que machuca o ambiente. O processo de selagem das caixas é limpo. A gente teve essa demora para conseguir se estruturar e patentear todos esses processos para lançar no fim de 2019, de forma já ecológica. Não é só o canudo, mas todo o processo da fábrica”, conta.

A substituição do canudo de plástico por uma solução mais sustentável é uma inciativa que está acontecendo em vários países. Uma das razões é que em média, o plástico demora mais de 400 anos para se degradar na natureza. Já no caso do trigo, o tempo diminui para 60 dias. “O plástico está com os dias contados. E que bom que está com os dias contados porque o consumo que a gente tem de plástico é o suficiente para a gente transformar o planeta inteiro em um lixão para a próxima geração. O mundo inteiro está repensando o seu consumo”, explica Eduardo.

Fabricação: A Tri Canudos de Trigo é uma das únicas fábricas de canudos de trigo na América Latina que acompanha todo o processo de fabricação desde o plantio do trigo. “O processo nosso começa na semente. Porque nós somos uns dos poucos que detém toda a cadeia de produção do canudo, inclusive na América Latina toda, mas a gente começa já na semente. Fazemos todo o trabalho com os produtores para fazer esse plantio”, relata Rafael.

Esse acompanhamento desde o início também trouxe desafios aos engenheiros que precisam apresentar aos agricultores uma nova forma de utilizar o trigo. “A gente tem até pouco de dificuldade de estar entrando neste ponto porque hoje todas as pesquisas em relação a trigo são feitas para aumentar a produtividade do grão. Aí a gente chega para o produtor ou para o técnico: ‘A gente quer o caule’. Eles acham até estranho isso porque geralmente é algo que nem é percebido. O caule eles não ligam muito – é óbvio que é visto para ver se tem alguma doença, mas eles olham mesmo é se o grão é produtivo. Então, a gente chega meio nessa contramão. Querendo não aproveitar o grão, mas aproveitar o caule. Temos que nos adaptar ao mercado porque não tem uma pesquisa nesse sentido para aproveitamento do caule do trigo, mas sim do grão”, conta.

O uso do caule na fabricação do canudo também exige que a colheita seja diferenciada. “A gente não consegue colocar máquinas. Tem que ser feita manual. A máquina acaba destruindo o caule e aproveita só o grão. A gente tem problema em relação a isso. Mas resolve de modo fácil, é só fazer uma colheita manual para aproveitar o caule”, relata Rafael.

Após a colheita do trigo, com o caule, a planta é levada para a fábrica, onde é feito o acondicionamento. “Tem todo o cuidado para cuidado de infestação, porque ainda tem o grão. Fazemos o acondicionamento dentro da fábrica”, disse.

Uma das vantagens é que o caule do trigo é oco, o que faz com que o processo de fabricação seja realizado somente com cortes. “O caule do trigo já é oco, basta fazer o corte. Lógico que é feito com cuidado para não quebrar. Tem toda uma parte de classificação para não mandar para o cliente o produto quebrado no final, porque é feito o corte entre os nós do trigo, para aproveitar também o caule, até a parte onde ele é mais espesso. Depois disso é feito a parte de seleção e limpeza”, explica Rafael.

A etapa seguinte é um dos processos que mais envolve cuidado. “Essa parte de sanitização e de limpeza por ser algo que veio da natureza, ele está num campo, está sujeito a todas as intempéries, a insetos, a microrganismos, a gente foca muito nesta parte. A gente faz um processo bem robusto, até mais do que deveria fazer, o que é exigido. O que está no nosso alcance a gente faz nessa sanitização para garantir a qualidade no final”, conta.

A etapa de limpeza é um dos pontos mais importantes, até mesmo para preencher critérios exigidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para a liberação da comercialização do produto. “Os critérios são de limpeza e sanitização, principalmente. Como se trata de um produto natural a gente precisa passar por processos para eliminar e garantir que não vai ter bactérias ou alguns microrganismos do solo”, afirma Rafael.

O processo de fabricação termina na embalagem que é feita por meio de uma máquina que ajuda a finalizar o produto que será encaminhado ao cliente.

Eduardo explica que o canudo de trigo é um produto sustentável de baixo custo e é possível customizar o produto final. “O cliente usou, ele pode ser descartado como orgânico. O custo do nosso canudo é baixo. É três vezes mais baixo que o canudo de bambu. A gente consegue ir além disso. O nosso processo e as nossas máquinas, a gente consegue para pedidos de baixa escala – baixa escala mesmo, 1 mil, 2 mil canudos pedidos – a gente consegue até customizar as próprias embalagens de canudos. A gente tem cliente que pede uma hashtag para gente colocar, pede uma arroba de Instagram. A gente já teve um casamento que a gente colocou uma mensagem para o casamento na embalagem”, relata Eduardo.

Essa customização também ajuda no marketing de outros negócios, já que muitos clientes de restaurantes, ao verem o canudo de trigo, fazem fotos em suas redes sociais para divulgar a inciativa. “O retorno que traz é um retorno para o meio ambiente, um retorno para o cliente e um retorno para o restaurante em forma de marketing”, explica.

O produto final também atrai a desconfiança de alguns clientes que duvidam da funcionalidade do produto. Segundo Rafael, o canudo não amolece e muitas pessoas nem sentem que é feito com produto diferente. “O nosso canudo, diferente do de massa de macarrão, ele não se decompõe na bebida. Pode ser bebida quente, bebida ácida, ele vai ter uma persistência bem boa na bebida. O de papel sofre esse mesmo problema. O nosso canudo, pode ficar tranquilo, colocar na bebida que não vai se desfazer, não vai soltar partículas, porque o de massa acaba soltando uma coisa ou outra e acaba sujando”, disse.

André conta que um cliente já desconfiou e testou o produto. “Um cliente nosso, inclusive antes de comprar o canudo, ele pediu uma amostra e ele fez o teste para a gente, para ver se comprava. Ele deixou dois dias imersos na Coca-Cola o nosso canudo e daí não alterou em nada as propriedades. Depois disso, ele virou nosso cliente”, conta.

A única recomendação é que o canudo não seja consumido. “A gente não recomenda que ninguém coma ele, pelo mesmo motivo que não coma qualquer casca. Ele é feito da parede do caule do trigo, então, ele não é recomendado que seja comido”, explica Rafael.

De acordo com Eduardo, as desconfianças são esperadas já que é um produto novo, contudo, ele destaca que a qualidade do material faz com que se tenha convencimento da proposta. “A gente tem um trabalho de convencimento ainda inicial grande no Brasil. A gente se enxerga dando os primeiros passos aqui no Brasil de um trabalho que vai envolver um mercado que consome 20 bilhões de canudos por ano. A gente se sente engatinhando não só no trabalho de conscientização ecológica, mas a gente acredita que a ecologia, a sustentabilidade, pelo menos no sistema que a gente vive hoje, ela é a cereja do bolo. Além de ser ecológico e ser sustentável, você tem que ter um produto que seja fácil de usar, um produto que não desmanche na bebida, um produto que tenha um custo razoável de fabricação para que você possa também cobrar um preço que não seja caro pro teu cliente. A gente está fazendo esse trabalho de convencimento dos estabelecimentos e a gente se sente muito bem-sucedido”, analisa Eduardo.

A fábrica fica no bairro Nhapindazal, no Condomínio Industrial, em Irati. O site da empresa é www.tri.eco.br, onde pode ser realizados mais contatos.

Com informações Rádio Najuá, com reportagem Karin Franco e Juarez Oliveira.

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