Tanise Kucarz, mãe do pequeno Lourenço, de um ano e sete meses, que morreu na tarde de quarta-feira, 13, dentro do carro da mãe, que trabalhava no momento no Centro de Apoio Psicossocial de Canoinhas (Caps), publicou um texto nas redes sociais nesta sexta-feira, 15. Tanise é psicóloga.
No texto, ela lamenta a morte do filho e explica os motivos que possivelmente levaram ela a esquecer de deixá-lo no jardim de infância onde ela o deixava todos os dias enquanto trabalhava. A mensagem de Tanise é para os pais e mães. Leia na íntegra:
Querida mamãe!
Querido papai!
Nestes dias de tanta dor gostaria de fazer um pedido a você: Cuide de você! Permita-se descansar! Permita-se pedir ajuda! Eu estava estressada. Estava me sentindo exausta. E passei a normalizar o estresse: “Hoje em dia todo mundo está estressado!” “A vida é corrida mesmo!” “Quem tem criança pequena é uma loucura mesmo!” Acreditava que eu tinha que ser forte. Sabia que estava cansada, mas… “Eu não tenho tempo de descansar”. Pensava que era uma fase corrida da minha vida. “Quando der eu descanso”.
Mas esse dia nunca chegava. E o cansaço foi aumentando. Comecei a ter pequenos lapsos de memória. Esquecer o que tinha falado e falar de novo. Esquecer onde tinha deixado alguma coisa. As vezes me machucava e nem percebia. Só via depois que estava com um roxo ou um corte, mas não conseguia lembrar onde tinha feito isso. E continuava na correria do dia a dia porque … “Não tenho tempo pra isso! ”Nunca pude imaginar que meu cansaço levaria a isso, que chegaria a esse ponto. Dediquei muito do meu tempo a cuidar do Lorenço e dos outros. Mas… “Não tenho tempo de cuidar de mim” “Não tenho tempo de descansar“, “Quando o Lorenço crescer eu descanso, mas agora não tenho tempo”.
Cuidei dele com todo meu amor, carinho e dedicação. Achava que se ele estivesse bem estava tudo bem. Não ficou tudo bem porque eu não cuidei de mim. Eu não me permiti descansar. Eu não pedi ajuda. E minha mente simplesmente desligou.
Como algo que entra em curto-circuito. Como se caísse o disjuntor por excesso de carga. Uma tragédia aconteceu!
Meu menininho partiu para o mundo espiritual.
Meu filho não volta mais. Será pra sempre meu anjinho de luz, como eu já chamava ele. As vezes aparentamos estar bem, mas não estamos. Então é hora de falar com os outros e pedir ajuda. Eu não posso voltar no tempo e mudar as coisas, mas o seu filho ainda está aí. Não deixe que a situação chegue ao ponto que a minha chegou. Não deixe que aconteça o pior.
Cuide de você! Permita-se descansar!
Permita-se pedir ajuda!
Não conseguimos cuidar dos outros se não estamos bem. Talvez você acredite que dedicar todas as suas energias a seu filho é o que basta para ele ficar bem e seguro. Eu acreditava nisso, mas não bastou.