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sexta-feira, dezembro 27, 2024
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A casa dos Simpsons tem um cômodo que nem os mais fãs conheciam

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Recriação da casa dos Simpsons pelo ilustrador Andrew Delong.

El País

Poucas séries de televisão até hoje foram submetidas a um escrutínio tão exaustivo, por uma infinidade de ângulos, como Os Simpsons. Suas supostas profecias, as participações especiais de famosos, a filosofia que seus diálogos emanam —tudo isso, enfim, vem enchendo páginas e páginas de livros e artigos jornalísticos. Tampouco a casa da família amarela se livrou da tempestuosa análise. Arquitetos e desenhistas dedicam seu tempo a estudar o lar do peculiar clã de Springfield, revisando os episódios com lupa, avaliando proporções, prestando atenção em detalhes e retratando o resultado em plantas baixas e croquis, como se de uma casa real se tratasse.

Um dos trabalhos mais rigorosos é a planta desenhada por Iñaki Aliste Lizarralde. Esse designer de interiores basco se interessa em transferir para o papel minuciosos esboços de cenários de filmes e séries de sucesso. Entre os títulos que o inspiraram estão filmes como Psicose, O Pecado Mora ao Lado, Um Estranho Casal e Casablanca (o Rick’s Café) e séries como Os Flintstones, Mad Men e Frasier. “O que procuro para este projeto”, conta-nos, “é que as casas, apartamentos ou empresas sejam lugares célebres e reconhecíveis, seja por sua presença ou por sua relevância na série ou filme. E Os Simpsons estão no ar há décadas, sua casa é muito reconhecível”.

Para poder recriar em duas dimensões do lar da família Simpson, Aliste precisou empreender um profundo trabalho de investigação. Ele começou, logicamente, vendo de forma minuciosa os mais de 630 episódios. Simultaneamente, começou a traçar esboços e tomar notas de detalhes concretos, como referência para ir completando medidas e proporções até obter uma planta final. “Vou preenchendo a planta com outra quantidade de notas e capturas de tela, para ter as peças localizadas de mobiliário, objetos de cena e demais”, explica. “Trabalhei muitos anos como designer de interiores e digamos que desenvolvi minha capacidade de visualizar espaços e plasmá-los em forma de planta.”

Quando se trata de séries como Os Simpsons, o interiorista enfrenta um desafio adicional: diferentemente dos cenários construídos em sets, os espaços inventados por desenhistas costumam mudar segundo as exigências do roteiro. “Nas séries de animação, os fundos mudam continuamente. Às vezes, uma parede parece medir dois metros, e outras vezes, quatro. Basta você recordar aquelas séries do estúdio Hanna-Barbera em que um gato perseguia um rato e o fundo ia passando sempre com a mesma poltrona, o mesmo abajur, o mesmo aparador… Aqueles apartamentos pareciam quilométricos”, observa.

Portanto, acrescenta, o resultado no caso d’Os Simpsons é fiel na medida do possível, “levando em conta que eles mesmos são infiéis no desenho”. E cita vários exemplos: “Em muitos episódios vemos que se dirigem para o porão a partir da cozinha, pelo que se deduz que as escadas estão nessa lateral da casa, junto à garagem; mas, em um capítulo em que Homer e Bart fabricam cerveja caseira e a enviam ao bar do Moe metida em bolas de boliches, os vemos entrar na garagem pela porta do hall. Em outro episódio, essa porta do hall é um armário onde as crianças se escondem e, em outro, está cheio de estantes onde guardam brinquedos”. E acrescenta: “Digamos que são eles os que se tomam as licenças. Eu me limito a registrar, dentro do possível, o que vejo”.

Concorda com essa observação um dos maiores especialistas espanhóis em Homer, Bart & Cia. Alejandro Tovar é doutor em Comunicação e autor da tese ‘Os Simpsons’ (1989-1997) e a representação de três problemáticas essenciais da sociedade contemporânea: meios de comunicação, empreendimento e gênero. “É preciso partir do princípio de que os responsáveis pela série foram criando a casa ao longo do trabalho”, explica Tovar. “Nas primeiras temporadas, nem sequer se respeita uma estrutura lógica. Como nos Flintstones, uma porta dava em outra, e depois em outra, e outra, e assim quase até o infinito. Não se preocupavam com a coerência. Uma janela aparecia do mesmo jeito que desaparecia.”

“Depois foram refinando”, narra Tovar. “Num episódio mais ou menos recente, Marge chega a dizer: ‘Temos um cômodo que aparece e desaparece; nossa casa é muito estranha para esse tipo de coisa’”. A congruência posterior deve muito ao trabalho do espanhol Javier Pineda, diretor de fundos d’Os Simpsons desde 1999.

Tovar, que prepara um livro sobre a série, elogia que sejam registradas áreas pouco mostradas nos capítulos. “A salinha que há no térreo, ao fundo à direita, apareceu pouquíssimas vezes”, detalha. É a sala misteriosa, que Aliste teve dificuldade para localizar: “É essa terceira sala de estar atrás da garagem e que só apareceu rapidamente em dois ou três episódios”. Essa sala, que contém um televisor e um puf, “aparece quase do mesmo tamanho que a sala principal, que abriga o piano [no extremo oposto; o piano é arroxeado]. Mas uma coisa é a flexibilidade da série, e outra, as exigências das medidas em um planta”, matiza Tovar.

Por outro lado, ele observa que “no térreo, bem ao lado da cozinha, observa-se um lavabo pequeno, como uma cabine. Esse lavabo na série não aparece nunca”. A esse respeito, o interiorista admite que esse banheirinho “nunca foi mostrado —só havia uma referência à sua existência em O Motim Canino, onde adotam um cachorro border-collie tão perfeito que urina na privada e o vemos sair dessa porta, grudada à cozinha. Ouvimos o barulho da descarga, mas não vemos o cômodo, então tive que inventar como era. Mas em um dos últimos episódios eles resolveram escrever uma cena em que Homer e Marge têm um arrebatamento e se relacionam nesse lavabo do térreo, que é mostrado pela primeira vez”.

Uma prova da escrupulosa observação que Aliste fez da série é a garagem, onde situou um balcão com quatro banquetas. “Num dos episódios, Homer monta um bar na garagem, e essa foi a razão para desenhar isso em vez de um simples carro em seu interior”, diz.

imitações semelhantes revelam a planta em perspectiva feita pelo norte-americano Andrew Delong. Diz Tovar: “As escadas que são vistas em frente, entendo que são a descida para o porão, mas também nunca aparecem lá. Quanto ao croquis da parte de cima, o acho completamente fiel”.

A recriação de Delong reflete com precisão as cores —um dos traços característicos da série— nas paredes, colchas e móveis. “Por um lado, os criadores da série disseram que deviam romper esquemas com cores vivas, para chamar a atenção do espectador que estivesse zapeando, mas também há a teoria de que os pantones das cores primárias são mais baratos e, como no começam não tinham grana… Brincando também com a breguice das casas americanas”, descreve Alejandro Tovar.

Garagem multiusos, escadas impossíveis, banheiros mutantes; um lar disparatado que desafia as normas da arquitetura. Como disse Homer em uma de suas frases mais célebres: “Nesta casa obedecemos as leis da termodinâmica!”.

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