Itens roubados no falso assalto — Foto: Polícia Civil/Divulgação
O amante da mulher que enganava ele e o marido contratou um mototaxista para forjar um assalto e acessar o celular dela, afirma o delegado Isaias Fernandes Machado, que finalizou a investigação do caso na sexta-feira (16).
A intenção, explica, era confirmar o estado civil da mulher, que, segundo as investigações, dizia ao amante que era solteira.
O caso aconteceu entre as cidades de Sengés, nos Campos Gerais do Paraná, e Itapeva, no estado de São Paulo, e ainda envolveu uma denúncia falsa: para tentar esconder a traição do marido, quando chegou em casa sem o celular e a carteira, ao invés de revelar que foi assaltada quando estava com o amante, a mulher afirmou ter sido sequestrada e registrou o falso crime na polícia.
Segundo o delegado Isaias, o amante da mulher e o mototaxista contratado por ele para realizar o roubo serão indiciados por roubo majorado e tentativa de invasão de dispositivo informático alheio.
Juntos, os crimes são sujeitos a uma pena máxima de dezenove anos de prisão para cada um dos homens.
A mulher será indiciada por denunciação caluniosa, cuja pena pode chegar a até oito anos de prisão.
A mulher e o amante vão responder em liberdade, explica Machado. O mototaxista foi preso na noite do crime e continua detido.
As identidades dos envolvidos não foram reveladas. O g1 tenta identificar a defesa deles.
Segundo o delegado Isaias Fernandes Machado, quando o assalto combinado aconteceu, a mulher estava viajando com o amante.
“Ela tinha ido à casa dele, em Itapeva. Ele estava levando ela embora para Sengés e fingiu uma pane no carro no caminho. O mototaxista, então, abordou os dois e roubou a carteira e celular das ‘vítimas” explica.
O mototaxista voltou para a cidade paulista e o casal continuou viagem sentido Paraná.
No caminho, o mototaxista foi abordado pela Polícia Rodoviária por estar de chinelos e sem viseira no capacete, atos considerados infrações de trânsito. Os policiais, então, encontraram junto a ele a carteira da mulher e os celulares dela e do amante e começaram a questionar a situação.
Ao mesmo tempo, a mulher chegou em Sengés e foi à delegacia denunciar o crime. Porém, com medo do marido descobrir a relação extraconjugal, a mulher foi com ele até a polícia e registrou boletim de ocorrência afirmando que havia sido sequestrada e feita de refém por cerca de duas horas, diz o delegado.
Neste momento, os policiais paranaenses emitiram um alerta e os paulistas o receberam enquanto ainda estavam na abordagem ao mototaxista. O homem de 29 anos foi preso em flagrante.
Preso, o mototaxista foi o primeiro a confessar e chegou a mostrar as mensagens que trocou com o amante da mulher para combinar o falso roubo, conta o delegado.
A partir do depoimento dele, todo o esquema foi descoberto e o amante confessou que forjou o assalto.
A mulher também confessou que mentiu sobre o sequestro, mas apenas depois de ser localizada. Isso porque, ao receber a intimação e desconfiar que falsidade da denúncia havia sido descoberta, ela disse ao marido que ia viajar para São Paulo e, há três dias, foi encontrada pela polícia em Curitiba, conta Machado.
“O caso foi de extrema complexidade para elucidação, pois os fatos, de improváveis que em tese seriam, podem servir de exemplo para manuais de direito penal. A simulação de assalto, tendo um terceiro que desconhece a farsa, equivale ao cometimento de crime de roubo. E imputar crime mais gravoso a outrem [denúncia de sequestro ao invés de roubo] equivale ao crime de denunciação caluniosa”, avalia o delegado da Polícia Civil.
Reportagem: G1 Campos Gerais e Sul