Um réu em uma ação trabalhista e o advogado dele tentaram enganar um juiz durante uma audiência virtual da 18ª Vara do Trabalho de Curitiba na última quinta-feira (24). O preposto se escondeu embaixo de uma mesa para que o advogado dele tentasse provar que não estavam juntos em uma sala.
O magistrado Thiago Mira de Assumpção Rosado desconfiou de que o réu e o advogado Robison de Albuquerque Maranhão estavam no mesmo lugar devido à semelhança entre as janelas que apareciam no vídeo. “O Ricardo tá na mesma sala que o senhor?”, questiona o juiz. “Não, não! Ele está na sala debaixo”, responde o advogado.
Em seguida, Thiago Mira pede que o defensor mostre a sala por completo para que pudesse atestar que ambos não estavam no mesmo ambiente. “O senhor consegue girar a câmera? Porque parece que a janela é parecida… Só pra gente se precaver aqui”, pede o juiz.
Robison de Almeida chega a mostrar parte da sala, mas evita exibi-la por completo. “Consegue girar 360º pra gente ver, doutor?”, insiste o magistrado. Neste momento, o advogado parece fazer um sinal com o braço para o réu, que se esconde embaixo da mesa com a câmera ligada.
“Por que o Ricardo entrou embaixo da mesa ali, doutor?”, questiona Thiago. “Vocês estão de brincadeira com o juiz aqui. Só pode ser piada mesmo!”, acrescenta o juiz antes de notificar o defensor de que irá oficiar a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Logo após o episódio, o magistrado suspendeu a audiência. O réu não poderia estar no mesmo ambiente que o advogado, pois não poderia ouvir o depoimento da outra parte.
Em nota, a OAB declarou à Banda B que não compactua com a falta de ética e o abuso de direitos no exercício da profissão. Além disso, informou que irá apurar o caso.
“Recebemos ontem, pelos veículos de comunicação, o vídeo da audiência na 18ª Vara do Trabalho de Curitiba. A OAB Paraná não compactua com nenhum tipo de falta de ética e abuso de direitos no exercício profissional e apurará o caso exemplarmente, de modo a proteger o bom nome da advocacia, punindo qualquer tipo de desvio da ética, do decoro e da legalidade, dentro dos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório”, diz o comunicado.
Já o Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região afirmou à reportagem que o juiz irá oficiar a OAB nos próximos dias para que a conduta do advogado seja apurada. “Diante do fato, o juiz suspendeu a audiência e vai programar os depoimentos das testemunhas da ação em data futura, de maneira presencial. Nos próximos dias, o magistrado deve oficiar formalmente à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para que apure a conduta do advogado, que tentou ludibriar o magistrado e, consequentemente, a Justiça do Trabalho no Paraná”, disse o órgão, também em nota.
A reportagem procurou o advogado Robison de Albuquerque Maranhão, que preferiu não comentar sobre o caso.