A Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba confirmou que a cidade vive um surto de Hepatite A. Entre janeiro e a última sexta-feira (26) foram confirmados 150 casos e três mortes pela doença. A empresária Julia Franciosi Gottschild, de 33 anos, ficou internada dois dias.
“Começou no dia 5 de abril. Tive muita dor de cabeça, indisposição, sensação ruim, como se fosse enxaqueca. Passou alguns dias, procurei atendimento médico e só me deram remédio para dor de cabeça”, explica.
Após três dias tentando tratar a dor de cabeça, Julia começou com quadro de febre, muito cansaço, perda de apetite e dor muito forte no abdômen. Além disso, percebeu que seu xixi estava muito amarelo e notou uma coloração amarelada também na pele.
“Na sexta-feira, fui ao Hospital São Marcelino Champagnat. Achei que ia passar apenas por uma consulta, mas fiquei internada. Fiz exames e descobri que estava com hepatite A. Fiquei de sexta a domingo no hospital, acompanhando como o meu corpo reagia à doença, já que não tem remédio específico para hepatite A”, conta a empresária.
O marido dela, o empresário João Felipe Gottschild, de 36 anos, ficou internado por uma semana no hospital.
Sintomas e prevenção
Julia fez um alerta a seus seguidores nas redes sociais. Ela orientou que as pessoas façam exame de sangue para descobrir se possuem anticorpos para hepatite A. Caso não, fez um apelo pela vacinação.
Julia ficou internada dois dias em decorrência da doença (Foto: Acervo Pessoal)
“A doença é terrível. Tem vacina disponível e, quem não tomou, deveria tomar”, enfatiza a influencer.
O gastroenterologista dos Hospitais São Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, Jean Tafarel, explica que as pessoas podem contrair hepatite A apenas uma vez na vida. Quem já teve a doença, portanto, está imune. Quem não teve, pode procurar imunização.
“A prevenção pode ser feita com a vacina, que hoje é comercializada. São duas doses, com intervalo de seis meses. Para grande parte da população, ela está disponível apenas em Centros de Vacinação. No entanto, faz parte do calendário vacinal do SUS para crianças abaixo de 5 anos, desde 2013, e também é disponibilizada no Centro de Referência Imunobiológicos Especiais para alguns grupos de pessoas imunossuprimidas, como pessoas vivendo com HIV e transplantados”, pontua.
O médico afirma que é necessário buscar a prevenção.
“São cuidados de higiene e de manipulação dos alimentos. A gente deve cuidar da lavagem das mãos, lavagem dos alimentos, buscar ingerir apenas água filtrada”, explica.
A hepatite A é uma inflamação do fígado causada por um vírus, chamado vírus A. Esse vírus A é um dos mais comuns de o ser humano contrair, pois a transmissão é via fecal oral, isto é, a pessoa pode adquirir o vírus por meio da ingestão de água ou alimentos contaminados ou na relação sexual, quando existe exposição da boca à região anal. Mas a forma mais comum de contaminação é quando a pessoa ingere água e alimentos contaminados. Também é possível haver a ingestão quando a pessoa entra em contato com água de enchente, contaminada com o vírus, que indiretamente respinga na boca.
“Uma vez o vírus dentro do organismo, ele tende a se alojar no fígado, promove a inflamação do órgão porque ele se replica dentro da célula hepática. O sistema imune vai até o fígado, agride essa célula e acaba havendo o dano hepático. Os sintomas vão desde febre, mal-estar geral, náuseas, vômitos e desconforto abdominal que pode predominar no lado direito. Pode aparecer icterícia, que as pessoas chamam de amarelão. É aquela coloração amarelada na pele, nos olhos. A urina também pode ficar mais escura e alguns pacientes podem observar as fezes um pouco mais claras”, esclarece o gastroenterologista.
Casos
Em 2024, desde janeiro até 26 de abril, já foram confirmados 150 casos de hepatite A em Curitiba, dos quais 80% (120 casos) atingiram homens e 20% (30 casos) mulheres. A faixa etária mais evidente está entre 20 e 39 anos. Cerca de 48% das pessoas contaminadas (72) precisaram de hospitalização e sete delas (9,7%) necessitaram de cuidados intensivos, ou seja, internação em UTI.
Também foram confirmados três óbitos por hepatite A aguda neste ano: uma mulher de 29 anos, e dois homens, de 40 e 60 anos. Um homem de 46 anos precisou de transplante hepático em decorrência da doença e já está recuperado.
Sintomas
Os sintomas da hepatite A muitas vezes podem ser confundidos com os de outras doenças. Os principais são fadiga, mal-estar, febre e dores musculares. Com a evolução do quadro, podem surgir sintomas gastrointestinais como enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia. A pessoa contaminada também pode apresentar urina escura (cor de coca-cola) e a pele e os olhos amarelados (icterícia).
Vacina
Desde 2014, a vacina de hepatite A está disponível no calendário básico de vacinação do SUS para crianças menores de 5 anos. Todas as Unidades de Saúde da capital paranaense oferecem a imunização contra a doença.
No Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE) a vacina de hepatite A está disponível para os seguintes grupos:
- Hepatopatia crônica de qualquer etiologia, inclusive portadores do vírus da hepatite C e B.
- Pessoas vivendo com HIV/aids.
- Imunodepressão terapêutica ou por doenças imunodepressoras.
- Coagulopatias, doenças de depósito, fibrose cística, trissomias, hemoglobinopatias.
- Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes.
- Transplantados de órgão sólido (TOS).
- Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH).
- Asplenia anatômica ou funcional de doenças relacionadas.
Saiba como prevenir a contaminação pela Hepatite A
Reportagem: Banda B