Nesta sexta-feira (1º), aconteceu na Casa da Memória Padre Bauer, a doação do acervo do extinto Jornal Aconteceu, que escreveu a história de São Mateus do Sul, entre abril de 1993 à dezembro de 2016. O material foi entregue pelos antigos proprietários Adriano Pageski e Hugo Lopes Júnior aos cuidados da professora Hilda Jocele Digner Dalcomuni e a diretora de Cultura, Mônica Zampier, responsáveis pelo local.
Em entrevista à RDX FM, o sócio-proprietário, Adriano Pageski, contou que já atuava como funcionário no extinto Jornal Nova Notícia e que durante uma conversa com Hugo Lopes Júnior, decidiram firmar uma parceria para fundar o Jornal Aconteceu.
“Após uma negociação com o então proprietário Mário Deina, e com o objetivo de regionalizar o jornalismo, conseguimos realizar esse trabalho por cerca de 23 anos. Se você hoje falar para a nova geração, que existia uma mídia impressa e que era feita a entrega de casa em casa, é algo muito curioso para eles. No início ele era quinzenal e preto e branco, e assim que assumimos, tornamos ele semanal e colorido”, afirma.
Com a chegada da internet e a rápida expansão e uso das redes sociais, a forma de se comunicar acabou se transformando, fazendo com que a informação chegasse mais rápida ao leitor. No entanto, também houve o aumento do número de fake news, ou seja, notícias falsas. Adriano conta que na época em que esteve a frente do Aconteceu, havia um cuidado na apuração e revisão dos textos, antes de serem publicados.
“Hoje em dia o que eu vejo é a fragilidade da informação. Quando nós fazíamos as reportagens, eu era um pouco ansioso, e queria sempre dar a notícia em primeira mão. Mas cercado de bons profissionais jornalistas, eles tinham uma preocupação na apuração, e verificar se aquilo de fato é verdade. Atualmente o que se vê, são pessoas escrevendo duas ou três linhas, tendo aquilo como verdade e trocando acusações. Por conta disso, acabei me afastando das redes sociais, mas fico feliz por durante esse período, ter escrito a história de São Mateus do Sul, ao lado de pessoas de muita qualidade”, comemorou.
Entre inúmeras matérias escritas e publicadas no Jornal Aconteceu, Adriano lembrou da história do Tio João, um morador de rua bastante conhecido em São Mateus do Sul, que estava sempre acompanhado de uma cadelinha, sua companheira inseparável. Segundo Adriano, a reportagem trouxe bastante comoção na cidade.
“Ele era uma pessoa muito conhecida e querida pela população, e quando ele veio a falecer, nós fizemos uma reportagem. Somado à isso, muitos se questionavam o que iria acontecer com a cadelinha e a história viralizou naquela época, foi bastante comentada. Considero essa matéria uma das mais marcantes, pelo amor singelo, simples e que não esperava retribuição entre os dois, era algo puro”, afirmou.
Formado em Arquitetura, Hugo Lopes Júnior, também sócio-proprietário, disse que a parceria surgiu após uma rápida conversa com Adriano para, inicialmente, anunciar no jornal. No dia seguinte, os planos mudaram e formou-se o objetivo de comprar a empresa.
“Conheci o Adriano naquele dia e propus a ideia de investir na compra do jornal, e aí começamos no final de 1996, no formato tabloide. Anos depois, transformamos para o tamanho standard, igual ao Jornal Gazeta do Povo de Curitiba. E com o aumento do número de anunciantes, passou a vir colorido e fomos crescendo, e aí se tornou semanal. Para mim foi uma honra ter feito parte dessa história, e saber que grande parte desse material, ficará eternizado aqui na Casa da Memória”, disse.
A professora Hilda enalteceu a atitude dos empresários em fornecer o acervo do Jornal Aconteceu à Casa da Memória. Para ela, o material é importante porque conta a história da cidade e região.
“A Casa da Memória, além de museu público, é um arquivo público histórico, onde já temos as edições de alguns jornais que tivemos aqui na cidade, como o Nova Notícia, Gazeta Informativa, Atual Notícias, Info Samas, além de jornais regionais, como a Folha de Irati. Eles estarão disponíveis para a população pesquisar e saber mais sobre a história do município.”, disse.
O secretário interino de Educação, Carlos Roberto Chaves, destacou a importância de valorizar a cultura e os cuidados com o acervo do jornal, mantendo viva a história de São Mateus do Sul.
“Acredito que a cultura, ela expressa o grau de maturidade de um povo, e um motivo é esse, de receber esses exemplares. Parabenizo os empresários Adriano e Hugo pela atitude, e também a professora Hilda pelo cuidado e conservação da Casa da Memória, estimulando outros empresários a manter esse trabalho de preservar a memória”, finalizou.