Neste dia 26 de novembro de 2024, Belmiro da Silva Lemes, celebra 100 anos de vida, ao lado dos familiares e amigos. Esbanjando saúde e lucidez, Seu Belmiro conversou com a reportagem do Portal RDX, e revelou que o segredo para viver tanto e tão bem está em se manter ativo. (Ouça a reportagem em áudio no final do texto).
Na casa onde mora há mais de 30 anos com a esposa Olinda, na Vila Amaral, ele faz de tudo um pouco, mas o que mais gosta de fazer é cuidar do quintal, onde ele planta desde pimentão, couve, pepino, alface e tomate. Além disso, ele adora flores, onde cuida rigorosamente cada uma delas. E a noite, o passatempo é jogar um baralho com os amigos, distração que segundo ele, é fundamental para ajudar a cuidar da memória.
“Para chegar aos 100 anos, primeiro é preciso ter fé em Deus, para que nos dê saúde e que a gente possa viver bem. Eu acordo cedo, tomo meu café, almoço e janto bem, durmo bem e trabalho com a horta. O segredo é trabalhar, não parar. E eu caminho o dia inteiro pra lá e pra cá, mesmo com o pé amortecido as vezes, mas não paro. Isso ajuda bastante”, conta.
Nascido na localidade de Água Amarela de Cima, que naquela época, pertencia ao município da Lapa, é filho de Alfredo de Oliveira Lemes e Francisca Vaz da Silva, trabalhou na roça de milho e feijão, junto de seus irmãos João, Artur, Marcolino, Sebastiana, Joaquina, Antônio, Ernestina, Ana, Jesuína, Gertrudes e Benedita. Estudou até o quarto ano do primário na mesma localidade com a professora Gasparina Simas Milleo, e aos 12 anos, trabalhava secando e malhando erva-mate no barbaquá.
Em 1946, veio morar e trabalhar em São Mateus do Sul com a primeira esposa Maria Nizer Lemes (in memorian), e deste casamento teve quatro filhos: Acyr, Jucy, Maria do Rocio e Rogério, e nesse período teve a sua filha Margarida. Na época, ele adquiriu a casa que foi da Usina de Xisto, do renomado Perna-de-Pau, que era o responsável.
Em seguida, trabalhou na firma Leão Júnior com o gerente Flávio Wolff ensacando erva-mate, e mais tarde no Vapor Leão como marinheiro, onde o comandante era Boles Fiatkowski, no trajeto de São Mateus do Sul à Porto Amazonas, transportando madeira e erva, trazendo mercadorias aos comerciantes.
“Logo depois eu passei a trabalhar como guardião no Leão Júnior, onde eu tinha uma rotina rigorosa, e era necessário marcar o ponto de hora em hora, e no outro dia tinha que levar a fita que estava no relógio para a conferência do trabalho”, relembra.
Trabalho e vida pública
Em 1948, a convite do prefeito João Batista Distéfano, conhecido como Sr Jango, passou a carpir e arar as ruas com o uso de cavalos, trabalhando também como ajudante de caminhão, puxando lenha para a usina de luz que ficava nos fundos de hoje é atualmente o posto da Polícia Militar.
“O caminhão utilizado era um Chevrolet 48, mas depois o prefeito adquiriu um trator com dois discos para arar as ruas, e o motorista do caminhão era o Sr Edmundo Prohmann. A prefeitura na época tinha duas carroças, três balsas, uma no final da rua Ney Amintas de Barros Braga, e que cruzava as casas da família Feliciano, e a outra onde atualmente é a ponte [do Rio Iguaçu]. A terceira balsa ficava no Passo do Meio, sendo que essa eu trabalhei arrumando o fundo dela juntamente com os senhores Antenor, Herculano e Pracedino”, conta.
Em 1952, Belmiro trabalhou com o prefeito Eduardo Sprada como operário, utilizando trator nas lavouras pela Casa Rural, fazendo a aragem do terreno do Sr Cintio Budzinski para que o mesmo plantasse arroz d’água. “Só que infelizmente deu uma seca e o arroz todo foi perdido”, recorda.
Após sair da prefeitura, Belmiro passou a trabalhar com Airton Furiate, agrônomo na Casa Rural do Estado, onde aprendeu a trabalhar com trator na lavoura. O primeiro serviço foi realizado na Colônia Iguaçu para o prefeito Eduardo Sprada, para em seguida gradear e semear arroz na mesma lavoura, que atualmente pertence ao Sr Cíntio.
Seu Belmiro também contou ter trabalhado na área rural com as famílias Graciano, Leal e Meira. “Arei com trator na fazenda do Sr. Jorge Malta e Dominguito Maciel e também com Esmael Portes em São Miguel da Roseira. Em seguida este mesmo Sr comprou uma máquina combinada de cortar trigo, com a qual participei de um desfile cívico, desta ocasião tenho a fotografia, pois foi a primeira máquina combinada da época”, disse orgulhoso.
Mais tarde o Prefeito Hezyr Leal Hultmann mandou ofício para a Secretaria de Agricultura pedindo para que eu prestasse serviço para a prefeitura, como maquinista da patrola, fui autorizado passando a trabalhar com os prefeitos:
HEZYR LEAL HULTMAN | 1955-1959 | Comerciante |
JOÃO BAPSTITA DISTÉFANO | 1959-1964 | Professor |
JOSÉ ZAMPIER FILHO | 1964-1969 | Industriário |
THADEO SOBOCINSKI | 1969-1970 | Advogado |
ANTONIO JOSÉ PORTES | 1970-1973 | Contador |
EDISON CARLOS SCHRAMM | 1973-1977 | Advogado |
LUIZ RENATO AMARAL (Ioung) | 1977-1982 | Oficial do Cartório de Registro de Imóveis |
Na administração do prefeito Ioung, Belmiro era encarregado da manutenção das ruas. Neste ano, incentivado pelo então prefeito, se candidatou pela primeira vez a vereador, sendo eleito com 367 votos pelo PTB, no mandato do prefeito Laurival Mayer.
A Kombi e o Fusca de Belmiro
Por muitos anos, Belmiro trabalhou fazendo assistência social à população carente, utilizando um VW/Fusca e uma VW/Kombi, com os quais ele levava pacientes que necessitavam de atendimento médico em cidades como Rio Azul e União da Vitória e que não tinham recursos em São Mateus do Sul.
“Eu não cobrava nada daqueles que levava, muitas vezes até ajudava nos custos dos remédios e da alimentação. Sempre estive a disposição, ajudava como podia, com alimento, pouso, dinheiro e sem hora. Naquela época poucas pessoas tinham condições de ter automóveis era diferente de hoje, então sempre que vizinhos e demais conhecidos precisavam me procuravam. No início tinha dois fuscas, mas como a necessidade era maior, troquei um deles por uma Kombi para poder levar mais pessoas”, conta.
Luiz na cidade e Belmiro no interior
Na segunda gestão como vereador, Belmiro foi colega de mandato de Luiz Adyr Gonçalves Pereira na eleição de 1988. “Tive a maior votação entre os concorrentes, onde fui eleito com 825 votos. Na ocasião, também fui presidente da Câmara de Vereadores e nesta eleição, tive como companheiros de mandato os vereadores Omar de Oliveira, José Stuski, José Ferraz, Mateus Maciel e como prefeito Enéas Distéfano, gestão de 1989-1992”.
Em 1992, Belmiro se candidatou à vice-prefeito de Luiz Adyr, mas acabou não conseguindo se eleger. No entanto, ele conta que mesmo estando fora da Prefeitura Municipal, continuou ajudando a população como podia. Já em 1996, se candidatou novamente e desta vez o trabalho foi reconhecido, obtendo 9.640 votos de um total de 19 mil eleitores.
“Nessa gestão fiquei responsável pelas estradas do interior, sendo o único vice-prefeito que realmente trabalhou ativamente ao lado do prefeito, inclusive cumpria uma carga horária muitas vezes de mais de 8 horas diárias, usava recursos próprios como carro e combustível. Muitas vezes o responsável pelos recursos ofereceu requisição para o combustível, mas sempre recusei”, afirma.
Na eleição seguinte, o então prefeito Luiz Adyr pediu para que Belmiro cedesse o cargo à José Stuski, e nesse ano, ele se candidatou a vereador, porém a votação acabou não o elegendo. No entanto, recebeu o cargo de Diretor na Fábrica de Manilhas para que pudesse continuar próximo da população, exercendo o cargo até o ano de 2016, completando 12 anos no mesmo setor.
Entre as ações que Belmiro recorda, foi o trabalho de ampliação da Escola Municipal Odemira Cunha, que contou com o apoio do deputado estadual Nelson Justus, obtendo recursos para a construção de uma quadra, sala de aula e uma casa para a zeladora.
“Tenho muito orgulho do trabalho que realizei ao longo destes 100 anos, sempre valorizando a honestidade, lealdade e o compromisso com tudo o que me propus a fazer. Hoje olho para a cidade e vejo um pouco de mim em cada lugar que passo, pois, muitas destas ruas arei, patrolei e mantive arrumada, muitas pessoas ajudei e agradeço à Deus por ter saúde e dignidade.
Vida pessoal
Após ficar viúvo, Belmiro construiu uma segunda família, com a esposa Olinda dos Santos Lemes, onde teve três filhos: Emiliana hoje casada, professora com um filho; Eliane também casada, professora e pedagoga, um filho; e Edenilson, que mora em Lisboa (Portugal).
Ao todo são oito filhos, Acyr, Jucy, Maria do Rocio, Rogério, Margarida, Emiliana, Eliane e Edenilson. Destes, recebi 21 netos ao todo, aproximadamente 33 bisnetos e 7 tataranetos.