VINICIUS SASSINE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A SpaceX, empresa do bilionário Elon Musk, foi comunicada sobre as conclusões de uma investigação feita pela AEB (Agência Espacial Brasileira), que apontou a empresa como dona de um pedaço de foguete que caiu no Brasil em março.
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A empresa admitiu ser a responsável pelo lixo espacial, segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Folha. E, mesmo assim, nada fez para o resgate da peça –que caiu a 100 metros da casa de um casal que vive numa chácara em São Mateus do Sul (PR), a 150 quilômetros de Curitiba.
Os moradores da chácara encontraram o material metálico em 16 de março. Quase dois meses depois, a peça está no mesmo lugar e apenas foi coberta, diz a empresária Josiane Franco Portes, 56, que estava em casa na madrugada em que o material se chocou com o chão.
“É uma peça pesada, a gente não consegue movê-la. A empresa não fez nenhum contato ainda”
disse Portes à reportagem.
Musk esteve no Brasil no último dia 20 para falar sobre interesses de suas empresas, em especial o serviço de internet por satélite da Starlink (outra companhia dele). Foi recebido pelas mais altas autoridades do país, civis e militares, inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentou fazer uso eleitoral da visita.
O lixo espacial deixado no Paraná passou ao largo da visita do empresário ao país.
A empresa tem a obrigação de recolher o material e de fazer a indenização de gastos públicos com a investigação feita, além de indenizar eventuais danos causados pela queda da peça, segundo fontes envolvidas na apuração.
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Integrantes da AEB –agência do governo brasileiro vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações– afirmam não se recordar de um caso dessa magnitude nos últimos 15 anos.
A agência ficou responsável por uma investigação sobre o artefato espacial que caiu em território brasileiro. Para isso, enviou uma equipe a São Mateus do Sul em 17 de março.
O relatório foi concluído e indicou a procedência do objeto, segundo a AEB. A Embaixada dos EUA no Brasil foi comunicada das conclusões e “entrou em contato com a empresa responsável pelo artefato”, conforme a nota da agência enviada à reportagem.
Na nota, a AEB não afirma que o pedaço de foguete é da SpaceX. A informação foi confirmada pela reportagem com fontes da agência e da embaixada americana.
A SpaceX foi contatada pela embaixada e já admitiu ser a responsável pelo artefato, segundo as fontes ouvidas. Não há prazo para que a empresa recolha o lixo espacial.
“Feitos os contatos iniciais, estamos no aguardo da resposta da embaixada do país de origem para tomar as providências necessárias”
disse a AEB.
Procurada, a Embaixada dos EUA no Brasil afirmou que uma posição deve ser dada pela empresa responsável.
A SpaceX não respondeu a um email enviado pela reportagem. O representante do escritório da Starlink aberto no Brasil, Vitor Urner, disse não ter envolvimento com as operações, desconhecer os planos do empreendimento para o Brasil e não estar autorizado a falar pela empresa.
Quando a peça caiu no Brasil, uma análise feita por integrantes de uma rede brasileira de observação de meteoros apontou a possibilidade de o material ser parte de um foguete da SpaceX.
São Mateus do Sul, segundo essa rede, fica abaixo da reentrada do foguete na atmosfera observada na semana anterior. E, ainda segundo integrantes da rede de observadores, há semelhanças com a tubeira de um motor do segundo estágio do foguete Falcon 9, da SpaceX. O foguete levou à órbita um satélite geoestacionário, conforme a análise da rede de observação.
“O barulho foi tipo de um vento levantando uma cobertura de zinco inteira”
afirmou a empresária Josiane Portes sobre a queda do artefato.
A chácara onde ela vive com o marido, João Pacheco Portes, 58, fica a seis quilômetros da cidade. “A peça caiu reta. Está lá, isolada, do jeito que mandaram deixar.”
A AEB e o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Aeronáutica, trocaram informações sobre de quem seria a responsabilidade pela investigação do episódio. A tarefa coube à agência espacial.
No último dia 25, a Aeronáutica deu ampla publicidade ao lançamento de dois satélites de sensoriamento remoto, comprados de uma empresa finlandesa. Os satélites foram lançados por meio do foguete Falcon 9, da SpaceX, nos EUA.
O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o comandante da FAB, tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, fizeram uma cerimônia para assistirem ao lançamento.
Segundo a AEB, quando há episódios de lixo espacial, o Brasil deve identificar o dono do artefato “com a máxima prontidão”, seguindo o Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico.
“A AEB, então, comunica ao MRE/Embaixada do Estado-Lançador para que dê destinação adequada ao objeto”, afirmou a agência, em nota.
A ONU (Organização das Nações Unidas) tem o registro de todos os objetos espaciais, o que permite saber quem são os lançadores, conforme a agência. No Brasil, o registro de objetos espaciais é gerido pela AEB. Todo objeto que cai deve ser restituído ao país lançador.
“A AEB tem procurado aprimorar os procedimentos relativos ao monitoramento, queda, localização e destinação de objetos espaciais, seguindo a atenção global quanto ao incremento da ocupação do espaço e da consequente preocupação quanto a detritos espaciais”
disse.