Após quase dois anos de um crime que chocou São João do Triunfo, Robson José Voinarski, de 22 anos, foi condenado a 19 anos e 6 meses de prisão pelo assassinato de Lindolfo Kosmaski, no dia 1º de maio de 2021. Robson foi condenado por homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. O júri popular durou pouco mais de 18 horas.
Lindolfo teve seu corpo totalmente carbonizado, com a intenção de ocultar provas. As investigações davam conta de que Lindolfo foi vítima de um crime de ódio, praticado com requintes de crueldade, motivado pelo preconceito por sua orientação sexual.
O júri começou por volta de 9h desta terça-feira (18) e encerrou por volta de 3h desta quarta-feira (19), somando mais de 18 horas de duração.
Segundo Micheli Toporowicz, advogada assistente de acusação que representa a vítima, a família reconheceu que a justiça foi feita.
“O julgamento foi longo e extenso devido a complexidade do caso. Mas saímos com a sensação de dever cumprido. Os jurados que representam a comunidade de São João do Triunfo reconheceram a materialidade, a autoria e as qualificadoras, ou seja, o acusado foi condenado por homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, recurso que dificultou a defesa da vítima e emprego de meio cruel. A família saiu aliviada, pois a justiça foi aplicada de forma correta”, disse.
De acordo com a defesa da vítima, Robson foi condenado a 19 anos e 6 meses em regime inicial de cumprimento de pena fechado.
Relembre o caso
O jovem camponês LGBT Lindolfo Kosmaski, morador do Coxilhão Santa Rosa, foi encontrado carbonizado dentro de um veículo no dia 1º de maio de 2021. No local havia ainda indícios de disparos de arma de fogo.
Na época, o delegado Michel Leite Pereira da Silva, já falecido, que inicialmente esteve responsável pela investigação, disse que a primeira informação foi de que havia um veículo Palio estaria em chamas na localidade de Coxilhão do Meio, interior de São João do Triunfo, em uma situação de acidente.
“No local nós vimos que os elementos não condiziam com uma ocorrência de acidente, mas sim como um caso de possível homicídio”, relatou o delegado na época.
O corpo estaria deitado no banco do passageiro.
O fogo se alastrou também pela vegetação, em que foi necessário o apoio do Corpo de Bombeiros de Palmeira para contenção do incêndio.
No dia 7 de maio de 2021, a equipe da 3ª Subdivisão Policial de São Mateus do Sul cumpriu 3 mandados de prisão e 3 buscas e apreensões referentes aos suspeitos de envolvimento na morte do jovem.
Familiares, amigos, colegas de trabalho de Lindolfo, e outras instituições se organizaram em um ato em São João do Triunfo onde acompanharam o júri nesta terça-feira (18).
Sobre Lindolfo
Lindolfo nasceu no dia 11 de setembro de 1995, no município de São João do Triunfo, em uma comunidade camponesa de pequenos agricultores e agricultoras, chamada Coxilhão de Santa Rosa.
Sempre muito estudioso, em 2014 após terminar o ensino médio, participou da Jornada de Agroecologia na Escola Milton Santos (EMS), que é um centro de formação do MST, no município de Maringá-PR. Também tinha o sonho de cursar medicina. Foi para Escola Latina Americana de Agroecologia (ELAA), na Lapa/PR.
Em 2015 estudou no curso de Licenciatura em Educação do Campo, Ciências da Natureza com ênfase em Agroecologia em parceria com a ELAA e a UFPR/Setor Litoral. Neste período conhece o MST e passa a participar das atividades, se reconhece como gay e começa a participar do Coletivo LGBT do Movimento.
Em 2018, ao concluir o curso volta para sua comunidade, em São João do Triunfo e continua os estudos no Programa de Pós-graduação em Ciências e Matemática, na Universidade Federal do Paraná. Dois anos depois, em 2020, concorre a vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no município, para tentar contribuir com a sua comunidade e nesse período também atuava como professor da Rede Estadual de Ensino do Paraná em quatro escolas.
Para o Coletivo LGBT Nacional do MST, Lindolfo se tornou um símbolo da luta pela qual ele lutava, “e pela qual nós vamos seguir lutando”, afirmou Alessandro Mariano, da coordenação do Coletivo LGBT Nacional do MST no ato de 2022 que reuniu 200 pessoas um ano após o assassinato.